14 de abr. de 2014

Filosofia Bundocêntrica: Ser vadia é ser livre (?)

Há muito muito tempo atrás, surgia em terras tupiniquins Gretchen –  a matriz geradora de todas as "misses bumbum". Desde então vem ocorrendo, digamos assim, um fenômeno popular de grande sucesso com moças bem dotadas em danças sexualizadas – quase ginecológicas –, baseado no atributo negritado.
E aí assistimos ao longo de muitos anos – sem sacar muito bem a revolução que estava acontecendo – uma sucessão de "grandes sucessos" de matriz bunda lelê, como os do "É o Tchan" e suas "Sheilas", e de uma infinidade de fêmeas-fruta.

Assim, depois de anos sucessivos de grande abundância, chegamos vivos ao começo de 2014, onde tivemos o privilégio de presenciar o funk da cantora Valesca Popozuda, denominado “Beijinho no Ombro”, fazer muito sucesso, trazendo-a aos holofotes da mídia e a colocando involuntariamente em uma polêmica por ter sido chamada de "grande pensadora contemporânea" –  uma provocação de um professor de filosofia em uma prova no Distrito Federal.

Em decorrência deste fato – pois a provocação foi mais que bem sucedida e virou notícia nacional – Valesca deu uma entrevista para a revista ÉPOCA (abril de 2014), cujo título é:


Bom para ela, que ganhou um marketing inesperado!
Em tempo: A entrevista que ela deu mostrou que é uma mulher inteligente, de opiniões fortes e com boa articulação. Sabe o que quer, o que faz e onde quer chegar.

Mas e quanto à opinião expressa por ela? Ser vadia é mesmo ser livre? Tomo aqui a palavra vadia como definição de uma mulher que assume sua sexualidade e lida com seu corpo sem vergonha (ou sem-vergonha!), dando de ombros para a sociedade, fazendo o que quiser, onde quiser.

Quanto à frase que me motivou a escrever este texto, posso dizer que discordo como a ideia foi colocada: se ser vadio é ser livre, implica que quem não é vadio não é livre? No contexto atual de liberdade de expressão no Brasil, pode-se afirmar para a maioria dos casos, lugares e situações, que com certeza: 

Ser vadia (ou vadio) não traz a liberdade por si mesmo, mas significa que temos a liberdade de poder escolher ser! 

E isso é bom!
Deste modo, eu não sou livre como resultado direto do fato de ser "vadio", mas se sou livre posso tranquilamente escolher vadiar e – se respeito os limites da sociedade e uso do bom senso ninguém tem nada a ver com isso! 

Penso que esta frase, colocada pela mãe da filosofia "popocêntrica", foi bem pertinente ao traduzir o pensamento de uma parte da "expressão cultural" do país; este fato, quando assumido, traz a necessidade de uma reflexão por um detalhe que deriva deste "movimento" (esquecendo as derivações auditivas): a exploração de performances quase pornográficas e letras que vão no mesmo sentido na consciente sexualização evidenciada por artistas do gênero bundal tem como platéia não só homens hipnotizados, mas todos que tem ouvidos de ouvir, inclusive as crianças (estão por aí os carros com som na estratosfera que não me deixam mentir).

São novos tempos e costumes, e teremos de lidar com as mudanças, o que a princípio é bom.
Mas o que se pode pensar sobre estes fatos?  É algo que permeia a mídia, a TV, as rádios, e os amplificadores sendo, portanto, atualíssimo, preocupando pais e educadores e levando a sociedade refletir em muitos momentos.

O fato é que estes cantores populares, por estarem em evidência, exercem influência sobre os mais jovens e contribuem para os moldar, e por este motivo talvez seja relevante e interessante também nós sermos grandes pensadores do assunto.
Nesta linha de análise da nossa sociedade, percebe-se que como resultado do "movimento", e implícita no título da reportagem, está a ideia de que – sinteticamente falando – para ser "legal", tem de "descer até o chão", sempre com pouco pano e em poses ginecológicas.

Coisas a se pensar, num exercício de livre pensamento, já que o assunto que foi abordado, ser vadia ou vadio, foi evidenciado:
Uma mulher assumidamente vadia, é legal? E um homem vadio?
E as crianças que recebem essas mensagens? E os pais, os educadores-mor, que tem a filha que caminha para se tornar uma "vadia"? Você, caro leitor,  na condição de pai ou mãe, o que sentiria ou pensaria? Educaria sua filha para ser livre e escolher ser vadia, se ela assim desejar? E quanto ao termo "vulgaridade", ele é pertinente aos dias de hoje? O que é ser uma mulher (ou mesmo homem) "de classe" ou "vulgar"? Isso ainda tem sentido? Existe um ditado que diz que a mulher perfeita sabe ser vadia na cama e dama na sociedade.

Enfim, essa liberdade de ser vadia/o – se uma mulher/homem assim desejar – é boa ou ruim no total da soma? Em minha opinião, com certeza! Uma das maravilhas do mundo moderno, uma liberdade adquirida a duras penas pelos seres humanos e ainda mais (muito mais) pelas mulheres!

Mas sempre tem a questão do outro: minha liberdade entra no limbo quando desestabilizo os que alcanço. Quando o assunto é sexo/sexualização, eu tenho o direito de fazer o eu que quiser, onde quiser? Os pais tem o direito de não ver sua criança presenciando letras e cenas explícitas de conteúdo sexual?

Como opinião pessoal, posso dizer:

  • Viva a liberdade de sermos vadios (se assim desejarmos)!
  • Viva a mulher/homem que tem a capacidade de ser vadia/o em deliciosos momentos!
  • Viva a desrepressão organísmica!

Em segundo lugar, posso dizer que não consigo sentir como algo positivo "ser" vadia/o o tempo todo, em vez de "estar" num momento da vida, de experimentar como uma fase, se assim a pessoa sentir necessidade/vontade, como parte integrante de uma vida rica em vivências.
Também não vejo como ser positivo a invasão dos espaços: o mundo de quem não deseja vivenciar certos exageros, ou que seu rebento seja "violentado" no desenvolvimento de sua sexualidade, deve ser respeitado.
Como se fará isso, não sei: dramas da vida moderna!

Dentro de meus limites pessoais posso dizer que não aprecio, com grandes chances de virem inseridos no pacote da vadiagem como filosofia de vida (coisas que a gente vê): a libertinagem, a irresponsabilidade com o próprio corpo, a vulgaridade, a invasão dos espaços escandalizando e influenciando as mentes em formação e deixando pais preocupados, e a negação dos direitos dos outros.

Dou – destacando a ideia central deste texto – meus aplausos sinceros à liberdade já conquistada e a quem luta pelo direito de sermos o que desejamos – respeitando os limites dos outros – ser.
Por fim, acrescento que não desejo que minha história ressoe pela eternidade como aquela produzida por um ser fútil, sem vida interior e que só vadiou toda vida – e nada mais.

Sejamos livres, então, e que a vida seja rica e valha sempre a pena!

EdiVal
14/04/2014


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