Mulheres desnudas de variações e de tons, quase translúcidas.
De monótono tom perolado.
É moda um tal de branqueamento e uniformização da cútis sem fim, em uma produção em série de mulheres do tipo - como diria Guimarães Rosa - baratas descascadas!
De afrodescendente à branquela dos cachinhos dourados: tendência onipresente do clareamento uniformizante no mundo da imagem, como que a desvestir a modelo de sua própria pele. |
- O que se vê, não é;
- O que parece estar, não está;
- O que não está, estava.
Enfim, aquelas proporções perfeitas, o corpo escultural e a pele uniformíssima do rosto da "gata-da-capa" mostrados na revista preferida podem ter como matriz geradora um corpo assimétrico-disforme-decadente!
A verdade é que se, inicialmente, o olhar é atraído para uma bela modelo super trabalhada em photoshop, um segundo olhar - mais atento - geralmente traz um "q" de estranheza, seguido de uma sensação de estarmos sendo enganados, que cresce rapidamente e mata qualquer admiração de longo período.
É fato inescapável: na maioria das vezes o exagero de edição traz uma sensação de irrealidade, falseamento ou mesmo de surrealidade, como se estivéssemos vendo uma personagem fictícia retirada diretamente de um anime japonês.
Fazendo-se uma revisão no mundo da moda e da imagem, descobre-se que o exagero de uso do recurso é tanto que, periodicamente, surgem verdadeiras aberrações:
- Sumiço de umbigos das modelos;
- Pescoço e pernas deslocadas em relação ao eixo do tronco;
- Assimetrias de forma e tamanho de um lado do corpo em relação ao outro;
- Cinturas e pernas tão finas que fariam a Barbie sentir-se "enorme de gorda".
Da beleza natural exuberante à boneca de plástico: excesso de photoshop que motivou uma campanha da supermodelo Gisele Bündchen contra o uso excessivo desta ferramenta. |
Esta realidade já há algum tempo está em discussão no mundo da moda. Fala-se da influência destes estereótipos na cabeça dos jovens, produzindo insatisfação eterna com o próprio corpo, anorexia, e até mesmo suicídios.
Por conta deste fato, muitas reações vem acontecendo, tais como:
- Nossa bela e famosa Gisele Bündchen iniciou uma campanha pessoal contra o uso excessivo da ferramenta, depois de ser "vítima" do excesso de manipulação, conforme mostrado na figura acima;
- Leis sendo feitas e discutidas para tornar obrigatório um aviso do uso de manipulação digital, similar ao que acontece com cigarros (veja aqui);
- Campanhas de beleza sendo banidas por excesso de photoshop (aqui);
- Campanhas mostrando a "beleza real" da mulher (youtube);
- A revista feminina Verily dispensou o uso de photoshop, ou a revista feminina (chilena) Ya que anunciou que trabalhará somente com modelos maquiadas, mas nunca retocadas por photoshop (entre no site destas revistas e veja por você mesma(o) se o uso do software fez falta...).
Digite no Google "antes e depois do photoshop", e veja por si! Olhe outro exemplo abaixo:
Madonna: antes e depois do photoshop, mostrando um "produto" final irritantemente fora da realidade. |
Real, mas com direito a toda a produção, roupas, cenário, cabelos, ângulos e bocas que valorizem suas formas e características interessantes - e sim, pintura é aceitável!
Aproveitando a ideia acima, pode-se destacar outro fator muito importante e que não se vê discutido por aí, pelo menos não com o peso que deveria ter:
Uma trabalho de edição no computador, ao possibilitar a construção, desconstrução e reconstrução sem limites (ad infinitum) da imagem digital, concentra a maior parte do trabalho em cima de um profissional da área: o operador do software. Assim, onde vários criativos e talentosos trabalhadores poderiam estar agindo e interagindo em dinâmica atenção à modelo, o falsário computador reina...
Outro fator de igual ou maior valor: onde fica a valorização de quem se cuida verdadeiramente? A modelo que leva uma vida saudável, se exercita, estuda e corre atrás, por exemplo, construindo sua beleza plástica e sua graça. Não devemos sair do mundo do faz de conta e recompensar o que é real? Valorizar a genética, o esforço pessoal, o sex appeal e o investimento em si mesmo?
E aí, "mercado da imagem", necessitando disfarçar os "terríveis" defeitos de uma celebridade?
A pele manchada e enrugada da artista de novela que nem passa perto do que a telinha tenta passar?
A celebridade que já está na terceira idade e que necessita ser "apessegada"?
Dobras se sucedem na cintura delas e constroem um engavetamento de material circular?
Deixem para os profissionais da maquiagem, da fotografia, de iluminação, de construção de cenários! Para os personal stylist e personal trainers! Estes trabalhadores talentosos são especialistas na valorização do que o ser humano a ser clicado tem ou pode ter de melhor, mais bonito, mais chamativo.
Quanta criatividade, força de trabalho e talento que podem estar sendo desvalorizados por um programa de computador! Quanta beleza real ignorada!
A verdade é que deveria ser uma ofensa para a mulher necessitar ser inteiramente modificada para se tornar publicável em um número de revista.
Tudo bem, não sejamos fanáticos intransigentes: um suave photoshop poderia ser utilizado (afinal o operador é um talentoso profissional!).
Mas que seja suave, leve, e nunca trabalho de escultor.
Nós, os consumidores, podemos dar o tom! Nosso bolso é nossa arma. Reclame da imagem muito alterada, bote em discussão!
Que os amantes da beleza honesta boicotem os exageros "photoshopísticos"!
Viva a beleza real!
Viva a valorização do que existe de verdade, e não do que vem ao mundo como um desenho gerado no computador!
E que a beleza seja eterna enquanto vinda de um corpo e rosto sinceros.
Dival (aquele que prefere a mulher real).
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Um exemplo de criatividade que valoriza o uso do photoshop: Beleza do mesmo rosto de acordo com as preferências de 25 países.
No projeto “Before and After“, uma foto foi enviada para diferentes artistas digitais, objetivando o uso da ferramenta do para "direcionar" a beleza de acordo com as preferências do país. |
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