9 de set. de 2014

A MENSAGEM DAS ABELHAS

A MENSAGEM DAS ABELHAS

Elas contam que há algo terrível acontecendo – e que nós somos os responsáveis.


"Meu Deus, as abelhas estão sumindo..."

Este foi o primeiro pensamento que me veio – carregado de espanto, lamento e temor – quando me vi diante de uma notícia desconcertante e aterradora: milhões de abelhas estão desaparecendo mundo afora, fato este configurado na forma de uma desordem, um colapso sem precedentes cujas consequências futuras só podem ser muito ruins.

Ao mesmo tempo é, indubitavelmente, um sinal de alerta. Talvez o maior que a humanidade já recebeu.

Neste sentido, o título deste texto em caixa alta foi intencional: certas coisas, tamanha sua importância, justificam serem gritadas para que possam ser ouvidas e sentidas com intensidade, na esperança de que se transformem em um catalisador para que as necessárias reações ocorram.

As abelhas são um patrimônio da terra e da vida, mas estamos extinguindo-as.

A maioria das pessoas tem uma noção geral de que as abelhas exercem uma importante função polinizadora sobre as plantas, além de produzir mel e picadas; contudo, poucos tem a exata noção de que este trabalho que elas realizam é crucial para a manutenção da natureza como a conhecemos.

O maior gênio de todos os tempos não pareceu ser um destes ao profetizar, em uma frase atribuída a ele: "Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, ao homem apenas restam quatro anos de vida. Não há abelhas, não há polinização, não há plantas, não há animais, não há homem" (Albert Einstein).

Não acredito que esta frase de efeito carrega a verdade no tempo previsto, mas tem tudo para carregá-la no fato consumado; então, se você, caro leitor deste texto – intencionalmente escrito em tom apocalíptico – ainda não entendeu o que está acontecendo, sinta a dolorida picada: tem um grave problema ecológico acontecendo no mundo em que as protagonistas são as abelhas – e se nada for feito, elas podem ser EXTINTAS!

E não se iluda:

Se as abelhas desaparecem da terra, nós iremos de carona com elas, montados em suas asas derradeiras.

A janela da vida é muito pequena, e o equilíbrio da natureza extremamente complexo e sensível, provado pelas cinco extinções em massa que já ocorreram no passado do planeta terra.

E não, não adianta tentarmos amenizar este evento com o uso de mecanismos de fuga racionais, pois não se trata de uma nova teoria conspiratória, nem de uma nova palavra de ordem gritada por "eco-chatos"; tampouco é uma hipótese em que os próprios cientistas divergem, como no caso do aquecimento global (agora quase unanimidade). É um fato que já está trazendo prejuízos bilionários para a economia global – e só vem aumentando! Pesquise por "Desordem do Colapso das Colônias (DCC)" e veja por si.

Você lerá, entre outras informações relevantes, que os estudos realizados até o momento demonstram ser real aquela primeira desconfiança que vem à nossa cabeça – derivada de uma culpa indisfarçável: somos nós os responsáveis por tal calamidade! Pesticidas, poluição, aquecimento global, redução da diversidade e outros elementos destrutivos que criamos: este são – com destaque para o primeiro – os ingredientes principais do molho venenoso que alimenta esta tragédia de dimensões globais e que pode marcar um antes e um depois na história da vida no planeta e, por conseguinte, da humanidade.

E para não dizer que não falei de flores... pode-se dizer que no inconsciente coletivo da humanidade a imagem destes insetos está envolta em uma aura mágica, como se estes fossem trazidos diretamente do mundo dos elementais: eles polinizam as plantas, ajudando a prover nosso alimento; eles se alimentam de doces néctares sugados de coloridas e perfumadas flores; eles nos dão o dulcíssimo mel!

Além disso, vivem neste planeta como trabalhadores incansáveis há quase 100 milhões de anos. Até esta angustiante notícia reverberar mundo afora, as abelhas nos pareciam praticamente eternas.

Mas estão morrendo aos milhões e colmeias inteiras desaparecem, literalmente, do dia para a noite! 

E, por este motivo, são as abelhas protagonistas e mensageiras de uma tragédia que há tempos estamos ensaiando no grande palco planetário.

A verdade é que quando me deparei pela primeira vez com esta preocupante notícia, ano passado (2013), não pude deixar de sentir um medo estranho. Sou Físico, trabalho fazendo ciência em ambiente de laboratório, e por conta desta formação fui treinado para ser racional a maior. Tampouco sou adepto de teorias de conspiração; aliás, sou bem cético quanto à maioria absoluta delas.
Contudo, se assomou em mim um sentimento complexo quando tomei ciência do DCC: um misto de medo, apreensão e angústia! Naquele momento antevi uma ruptura – não tão distante como se possa pensar – do ciclo da vida como conhecemos, resultando em um meio ambiente mais pobre, com menos alimentos e seres viventes: o cenário perfeito para a sexta extinção em massa!

Um mundo semi-morto nos espera?

Foi um medo, em tudo, apocalíptico! Mais do que o aquecimento global, mais do que uma (sempre possível) nova guerra fria ou terceira guerra mundial; mais do que a ideia de asteroides gigantescos vindo em nossa direção (possibilidade esta também não desprezível).

É... as abelhas não são eternas, a natureza não é infinita, e a terra é uma só – apenas uma pequeninha rocha flutuando na imensidão do universo! E nós, apenas uma centelha, um milésimo de segundo perante a escala de tempo da vida.

Por estes motivos, a equiparação – já explorada em textos e vídeos espalhados por aí – me foi inevitável: me senti como verdadeiro integrante de uma casta de vírus que se reproduz descontroladamente e mata seu organismo hospedeiro. Não! Muito pior, porque os microrganismos não têm as tais "faculdades cognitivas superiores" (???) para inferir que, destruindo aquele mundo que lhes provem – enquanto vivo – tudo que lhes é necessário para sobreviver, morrerão também!

...

Estes somos nós?

Falta-nos algum tipo de inteligência, aquela que nos daria a noção de interdependência?
Ou somos nada mais nada menos do que megalomaníacos cegos, perdidos em nossas fantasias de omnipotência?

Temi, pela primeira vez, que a natureza estivesse verdadeiramente reagindo contra nossas ações destrutivas – tema central de muitos livros e filmes de ficção. Senti como se este acontecimento fosse a manifestação real da fantástica ideia de que a natureza se vinga; como se tivéssemos entrado numa espiral sem volta, resultado de nossas próprias ações e de um modus operanti suicida, produzida por uma espécie que se acha desvinculada e acima da própria natureza que a criou.

É o início do fim?
O carma humano está sendo resgatado do livro da vida pela mãe-natureza?
A lei de causa e efeito está finalmente agindo e se prepara para cobrar nossos crimes?

Causa e efeito... este conceito é, em tudo, classicamente físico e uma lei universal! Colhemos o que plantamos (Ciências Agrárias); tudo que sobe, desce (Gravitação de Newton); pequenas ações podem determinar grandes eventos futuros (Teoria do Caos); chutamos uma pedra e ela nos devolve o golpe com uma força de igual intensidade (Terceira Lei de Newton ou Princípio da Ação e Reação).

Enfim, estamos girando a roda que move o moinho sem pensar no amanhã e muito menos no que será triturado – e é aí que nascem das sementes que plantamos espinhos para perfurar nossa carne, e a pedra lançada e agredida pode quebrar nossa cabeça e machucar nosso pé, para que, assim, aprendamos nossas lições – crianças que somos experienciando todos os limites.

A verdade é que não existe uma segunda terra, e o tempo é uma flecha que só voa para frente. Na vida e na natureza existem muitos limites que, se ultrapassados, não haverá a oportunidade de se retornar para restaurar o que foi perdido. Indubitavelmente, uma eventual extinção dos insetos polinizadores é um destes limites, com previsões (quase unânimes) da gênese de uma sequência de eventos catastróficos que comprometerá o mundo como conhecemos.

Assim, pode-se afirmar que, se as abelhas desaparecerem por conta de nossas "burrações" (*), não sairemos somente feridos: definharemos aos bilhões pela diminuição drástica dos alimentos que o meio pode nos oferecer.

Ah! Morte grande, sofrida, chorada... o que se veria seriam séculos de ininterrupta e crescente bancarrota alimentar, subnutrição generalizada, fome, guerra, peste, morte, extinção... (se não como espécie, como civilização).

"É o final da vida e o início da sobrevivência" 

Vamos continuar agindo de forma arrogante e idiotamente suicida perante a natureza? Não vamos considerar este aviso pré-apocalíptico (provavelmente o maior de todos)?

E quando os seres humanos começarem a desaparecer também?

Que a mãe natureza possa nos perdoar, e nos ensine – em tempo e não com tanta dor – a viver em harmonia com o mundo e todos os seres que nele habitam: aqueles com quem compartilhamos este que é nosso único lar possível, nossa casa, fonte de calor, água, alimento, beleza e vida: o planeta Terra.

“Somente após a última árvore tiver sido cortada,
somente após o último rio tiver sido contaminado,
somente após o último peixe tiver sido pescado,
somente então vocês entenderão que dinheiro não se pode comer”.


(Provérbio indígena do povo norte-americano Cree)


Agosto-Setembro / 2014


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(**) "Burração": neologismo efêmero, nascido para viver somente neste bioma de letras, constrito aos domínios deste texto. Foi aqui criado para ilustrar e adjetivar as ações que os seres humanos fazem com interesses puramente imediatistas, nada holísticas, ameaçando o futuro deles mesmos. Resulta da contração dos termos da expressão "ações burras": perfeito adjetivo para a exposta falta da inteligência que nos daria a "noção de interdependência". É em tudo similar ao conceito de "inteligência emocional" que, estando em falta, destrói a vida de quem esta foi suprimida (porque, sem tal atributo, este só materializa... "burras ações"!). A diferença é que, no caso maior considerado aqui, de “burração” em “burração” vamos diminuindo nossas condições de vida e ameaçando nosso próprio futuro no planeta Terra.

2 de set. de 2014

Linchamento no Poste Virtual - em Defesa da Gremista do Grito Racista.

Sim, venho aqui defender a garota.
Não, não a acho inocente.
Sim, acho que ela deve pagar o crime cometido.

Contudo, existe um negócio chamado bom-senso.
E existem também as leis.
E mais: existe uma parte da sociedade extremamente violenta - aqueles que lincham meninos negros amarrados em poste, e também a senhora branca de Bíblia na mão porque achavam que ela era feiticeira (não, isso não é na África!).

Óbvio que essas pessoas estão na Internet também! E estão atacando apenas virtualmente porque não tem acesso à pessoa, porque se tivessem, o fariam fisicamente até esfacelar seu crânio.
Mas só o fazem em grupo ou com a certeza do anonimato, porque são todos COVARDES.
A casa já foi atacada.

Movidos pelo desejo de agredir, de matar, essas pessoas só precisam de um motivo para se sentirem livres para soltar seus demônios e dar vazão à sua gana assassina, seu desejo por sangue.
Não, não são pessoas boas revoltadas. São os que atiram pedras na mulher enterrada até a cabeça no chão para matar a "indigna".

Por isso, a gremista que encetou a cena de racismo gritado e televisado, deve ser protegida da horda sedenta de sangue para, até, ser julgada na forma da lei, pagar seus débitos e crescer como ser humano.

Um dado que me ajudou a formar uma opinião sobre o assunto foram as entrevistas realizadas com vizinhos negros da menina, que conviveram com ela, interagiram com ela, receberam-na em sua casa, e foram tratados com respeito e bom humor por ela. E por terem essa visão maior do conjunto complexo que é este ser humano que cometeu um erro, estão defendendo-na e, como disseram, estão com ela até o fim, apesar de acharem que deve haver o seguimento dos tramites legais. Mas nada mais que isso.

Há que se ter cuidado com vídeos. Uma narrativa do acontecido, apesar de definir perfeitamente o ato, teria muito menos peso e mais bom-senso.

Tudo bem, ver a cena induz o sentimento de revolta. Mas como seus vizinhos com propriedade disseram (porque tem mais informações que nós, o que dão a eles uma visão mais abrangente), "ela é uma menina normal que foi no embalo da multidão" e merece seguir a vida depois de pagar o erro cometido.

E que se encontrem e processem os outros espectadores que também protagonizaram cenas terríveis, caso contrário não haverá justiça - apenas um bode expiatório.

O que a garota fez foi feio de se ver e de se sentir, quando empaticamente nos colocamos no lugar do agredido, mas tudo tem a sua medida e seu recipiente.
Se é para se julgar, que seja sem ódio obnubilante e com visão de conjunto.
Este é um caso para 20 anos de reclusão? Para pena de morte? Óbvio que não.
Muito menos para linchamentos, que deve ser sempre REPUDIADO de todas as formas.

Não para a violência e o ódio, sempre!

O Jogador aranha, ao qual acompanhei várias falas e passei a admirar como pessoa, com certeza está com este espírito de que as coisas se deem no sentido de amenizar os ódios, os preconceitos, de haver uma mudança, e não mais violência.

Sim, é tanta raiva expressa, vinda de tantas pessoas, que a menina está pagando muito mais do que deveria! Que ela seja julgada. Que pague, que indenize financeiramente o Jogador por danos morais, se assim a justiça entender.
Mas, depois de pagar tudo que deve, espero que volte tendo aprendido sua lição e se recupere em todos os sentidos.

E que seja acolhida como pessoa melhor, se assim mudar.

Cuidado com todo ódio. Se você o sente, seja por que motivo for, ligue todos os alarmes: o lobo que existe em você está bem alimentado!

1 de set. de 2014

O Operador Morte: de Getúlio Vargas a Eduardo Campos

Em um texto anterior (aqui), brinquei com uma analogia na vida e na sociedade do conceito de operador: um ente matemático tal como a raiz quadrada de um número, a soma e subtração – ou mais complexos como os que atuam na Mecânica Quântica – transformando uma função em outra, mudando o estado daquilo que sofre sua atuação.

Achei interessante – num exercício de livre-pensamento – a transposição deste conceito matemático para conceituar aqueles eventos transformadores das coisas da vida e do mundo – tal como as pessoas, instituições e países.

Por conta desta ação, tudo é transportado de um estado anterior para outro, ulterior – que pode ser melhor ou pior, maior ou menor, mais simples ou mais complicado.

Dentre os muitos operadores possíveis para as hiper-complexas equações humanas, existe um que surge (como uma das únicas certezas humanas) e muda tudo, sempre.

Este super-operador é a senhora MORTE.




Poderosa e isenta de dúvidas –  inescapável extintora da vida, desagregadora das moléculas do corpo – faz o despejo da alma.

Ocasiona, também, ao meio onde o ente "operado" viveu, dor, vazio, comoção e outras transformações. Por tabela, muda a vida de muita gente - as vezes de nações inteiras!

Mas a mais pitoresca (e irracional) ação deste operador é tornar os atos do ex-vivo – principalmente os que antecederam imediatamente a morte – em algo transcendente, repleto de significado.

A morte operadora suprime  (ou mascara) a "parte má", e exalta (ou diviniza) a "parte boa" da pessoa extinta – se assim puder ser, de algum modo, interpretada. Além disso, pode gerar uma reação de aversão (ou revolta) sobre aqueles que estavam, antes, hostilizando o ente falecido, fato este que pode minar a força e poder de seus adversários (se existirem), e trazer acusações de toda sorte.

Após a operação desestabilizante de extinção da vida, a morte pode transformar um vilão em herói; um assassino/genocida em mártir; um ditador em pai da pátria!

Pode-se também, através deste operador, "sair da vida para entrar na história".

Getúlio Vargas, autor da frase acima, em 2014 volta à mídia devido ao aniversário de 60 anos de sua morte, operada por ele em si mesmo através de um ato suicida.

Outra morte em evidência nestes dias pré-eleições – e exemplo perfeito dos efeitos aqui pressupostos (e o motivador destes escritos) – foi a do candidato à presidência da República Eduardo Campos, em um fatídico acidente de avião.

Me chamou muito a atenção esta coincidência. Duas mortes que transformaram, traumaticamente e repentinamente, a cara do Brasil.

Exemplos de outros passamentos repletos de significado para o país foram as de Tancredo Neves, Tiradentes, Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães.

Getúlio Vargas, 1954, sabia deste poder operatório e transformador da morte, e se utilizou destas propriedades para inverter a favor de seu grupo o estado político do Brasil à época. Vivia o famoso brasileiro, em seus dias derradeiros, uma situação entendida pelos historiadores como sem saída: ora denominado ditador, ora "pai dos pobres", estava – mesmo na condição de presidente eleito – para ser deposto pelas forças armadas e ser preso.
A morte operada por suas próprias mãos foi a solução encontrada por ele para esta situação –
calculada para ser um ato, antes de tudo, político.
A comoção nacional ante tão forte e tresloucado ato, traria tanto simbolismo e significado que iria destruir os planos de seus adversários, forçando-os a se colocar na defensiva. A força de seu suicídio traria a vitória, e Getúlio, morto, sairia para sempre do palco da vida para deitar, vitorioso, no berço esplêndido da nação. O poderoso operador morte levaria a nação de um estado a outro!

E assim foi: a operação mudou totalmente a função Brasil-1954, e com ela o estado das coisas e o destino da nação (como está amplamente registrado nos livros de história).

Tempos atuais: Eduardo Campos, 2014 – terceiro colocado nas pesquisas para presidente da República – dificilmente sairia desta colocação; segundo informações, ele sabia disto e sua verdadeira intenção seria de se projetar nacionalmente – com olhos fixos nas próximas eleições.

Marina Silva, a ecologista ex-companheira de Chico Mendes, a mulher franzina de projeção nacional, filha da floresta amazônica, era sua candidata a vice – posição acatada depois de muitas atribulações partidárias, pois a intenção mais profunda de Marina era a de concorrer à presidência – o que não pode fazer por força das circunstâncias.

Foi uma trama de acontecimentos difícil de entender que a levou a esta situação, e somente um fato excepcional tornaria possível seu desejo de mudar o estado: de candidata a vice para chefe do poder executivo.

Estavam, então, a poucos meses da eleição, com estabilidade de índices onde a disputa, se houvesse, seria polarizaria entre os dois outros partidos que há muito tempo se revezam no poder; mas, inesperadamente (como comumente acontece – sorrateira que é a moça da foice), a morte operou: um acidente de avião misterioso e fatídico que, ao explodir na cidade, desceu como uma bomba sobre a nação.

"Não pode ser verdade!" "Como?" "Porque?" "Parece coisa do destino".

Esta é a primeira ação das tragédias: o assombro, a dificuldade de acreditar; depois vem a busca do entendimento, dos porquês; em seguida a aceitação e adaptação, entremeada de teorias conspiratórias.

No meio de todas destas fases, a outra ação do operador-ceifador é tornar tudo maior que era: se antes se tratava de um "simples" candidato com seu índice de aceitação e de rejeição bem definidos (e com as inevitáveis denúncias e montagens na Internet sendo feitas como sempre se vê), Campos agora era o elemento surpresa, o salto no gráfico, o dono das emoções e pensamentos da nação.

A trajetória do falecido ganhou destaque e importância, impregnadas de uma certa "aura luminosa" de predestinação, onde até as coincidências são supervalorizadas: na sua última entrevista na TV, sua frase de efeito dita no encerramento, "não desistam do Brasil" soou, diante da tragédia (ocorrida logo após) como mantra, profecia, mandamento!

Tudo ganhou importância, ares de predestinação, de destino!

Por conta desta atmosfera, os adversários foram colocados em uma posição delicada.  Falar mal não seria mais de bom tom. Aliás, melhor entrar na onda e dizer que se é o verdadeiro herdeiro do legado do falecido. E foi o que aconteceu.

Por outro lado, os olhos se voltaram rapidamente para Marina. A equação, transposta de estado pelo operador morte, fechava a conta nela. Com a ex-seringueira como candidata no lugar de Campos, o destino parece se cumprir!

É uma mensagem subjacente, sentida, cheia da energia que vem do assombro e da estranheza. É o sentimento de predestinação.

Este é o exemplo perfeito da força das tragédias e da morte, de como eles brincam com a emoção de uma coletividade, transformando tudo, virando as peças de pernas pro ar e gerando uma nova realidade.
Tudo que foi dito aqui pode ser visto e sentido objetivamente olhando o gráfico com as intenções de voto desde antes do acidente:
Fonte: Blog Brasil Decide.

Assim, ao que tudo indica, o futuro do país tomou um novo rumo. Sai-se, por conta do acontecimento, de uma dicotomia de partidos e entra-se em uma terceira via; Marina, uma surpresa fora do comum desde outras eleições, sofre um golpe do destino a seu favor.

Se continuará assim, se será bom ou ruim, eu não sei, mas que foi mais um episódio histórico derivado de uma morte significativa para ser sempre lembrado – e que está desenhando novos caminhos para o Brasil – ninguém pode negar.

Somente o frio operador morte pode gerar transformações tão intensas em tão curtos períodos. Sai-se da vida e, indubitavelmente, se entra na História.

Contudo... que Deus nos livre deste operador!

DiVal.