30 de dez. de 2014

A Composição da Vida e as Cargas que Somos Obrigados a Carregar

Nosso passado são como vagões de uma composição, que vão se juntando com a medida exata de nosso andar. Como sabemos pelo peso que, às vezes, sentimos ser demasiado, nós somos a locomotiva que puxa a carga toda rumo a um destino que, inocentemente, tentamos controlar.

Todos carregam sua vida pretérita, sem exceção. Nada desaparece, nada é esquecido, pois todas as coisas que vivenciamos tem uma energia e não podem, portanto, ser destruídas.

O passado é, enfim, um trem com o tamanho da nossa vida, e em cada vagão jaz uma lembrança e um significado.

Cedo vem a todo ser vivo o peso do viver: o nascituro não é como folha branca, pois traz a carga daquilo que absorveu da mãe e do mini-mundo da barriga, seguido do trauma físico do nascimento (e, quem sabe, de uma existência anterior à fecundação?).
Estes são, inexoravelmente, os primeiros vagões da composição da vida de cada um de nós.

Conforme caminhamos, os acontecimentos adentram o passado que é um campo difuso e mal iluminado, pois a lanterna da consciência vive no presente, caminhando bem junto a nós na velocidade e no sentido da flecha do tempo.

Temos vagões fechados, semi-abertos e aqueles abertos e francos. Na penumbra das lembranças distantes – e nem sempre presentes na consciência objetiva – está tudo que passamos.

Nas profundezas da psique existe um universo inteiro a ser desvelado!

Consciente X Inconsciente.

Alguns vagões transportam cargas que, por sua própria força positiva, nos impulsionam para frente; outros, servem como freios, e temos de os arrastar. A força do primeiro é um vetor de sentido auxiliar – são lubrificantes da vida – e a do segundo vem no sentido contrário ao caminho que desejamos seguir: são os fardos atritosos.

E cada lembrança tem uma relação especial com a luz: alguns reluzem e nos retroalimentam; outros absorvem nossa luminosidade. Uns são estrelas e propiciam a vida; outros, buracos negros que sugam tudo, até a luz do presente.

Quais pontuam nosso céu? São as pessoas que nos alimentaram de nutrientes, de sentimentos e de sabedoria; são os passeios por lugares maravilhosos, é o totó que enriqueceu nossa infância com sua existência; são nossos amigos e companheiros com quem rimos e aprendemos.

Quais são os buracos-negros? São os traumas que, às vezes, nem estamos conscientes de sua existência; é o parente abusador (que pode ser, horror dos horrores, um dos que nos deu a vida); pode ser o "humano" horrível que vampirizou nossa alegria com violências inomináveis, e podem ser também as tragédias que levaram, tal qual tsunami, as coisas mais preciosas que possuíamos.

Um nos traz a primavera da vida, o outro a noite negra da alma.

Numa terapia podemos pegar – com esta ajuda externa – a lanterna do presente e trazer luz às cargas que estão nos atrasando. Ao vê-las e compreendê-las, deixamos ali um pouco da luz que as iluminou, e as apaziguamos, pacificamos, neutralizando um tanto de sua natureza sugadora.

Assim, podemos seguir em frente com menos carga, libertos de alguns freios que nos exauriam.

Autoconhecimento então é, também, olhar para trás e nos permitir ver e (re)conhecer a composição de nossa vida – que é, no final das contas, a construção de nós mesmos e grande responsável pelo que somos hoje.

Quem tem medo de olhar – sempre que for necessário – aquilo que carrega dentro de seus empoeirados vagões, perde a oportunidade de aliviar a carga de sua vida.

Auto-enfrentamento.


EdiVal.
30/12/2014

13 de out. de 2014

Geração k

Antigamente, se lia Machado de Assis de cabo a rabo.
Era a geração cabeça!

Depois, a molecada não aguentava nem ler um texto de duas páginas do começo ao fim. Tudo rápido, tudo sem aprofundamento, tudo superficial.
E surgiu a geração "só a cabecinha"!

Hoje, fiquei sabendo que a média de visualização de um vídeo do youtube é de 90 segundos. 1,5 minutinhos! Pensando melhor, o nome "cabecinha" é grande demais, nem vão ler! Vou diminuir um pouco:
É a geração "cabeci" (há! O som lembra algo que eles devem, cabalmente, ser, pois nunca "vão em frente"!)!

Agora, eu soube que metade das músicas do Spotify são ouvidas apenas parcialmente, ou seja, não possuem paciência nem para ouvir uma música de poucos minutos inteira!

Acho melhor deixar apenas como geração "ca", senão vão morrer de exaustão com tanta complexidade! Mas como sei como "ca" vai ser escrito em internetês, já adianto o processo:
É a geração k!

Olha só: se juntarmos numa mesma sala vários espécimes da geração k, temos um kkkkkk...!

Quá!

DiVal
13/10/2014

9 de set. de 2014

A MENSAGEM DAS ABELHAS

A MENSAGEM DAS ABELHAS

Elas contam que há algo terrível acontecendo – e que nós somos os responsáveis.


"Meu Deus, as abelhas estão sumindo..."

Este foi o primeiro pensamento que me veio – carregado de espanto, lamento e temor – quando me vi diante de uma notícia desconcertante e aterradora: milhões de abelhas estão desaparecendo mundo afora, fato este configurado na forma de uma desordem, um colapso sem precedentes cujas consequências futuras só podem ser muito ruins.

Ao mesmo tempo é, indubitavelmente, um sinal de alerta. Talvez o maior que a humanidade já recebeu.

Neste sentido, o título deste texto em caixa alta foi intencional: certas coisas, tamanha sua importância, justificam serem gritadas para que possam ser ouvidas e sentidas com intensidade, na esperança de que se transformem em um catalisador para que as necessárias reações ocorram.

As abelhas são um patrimônio da terra e da vida, mas estamos extinguindo-as.

A maioria das pessoas tem uma noção geral de que as abelhas exercem uma importante função polinizadora sobre as plantas, além de produzir mel e picadas; contudo, poucos tem a exata noção de que este trabalho que elas realizam é crucial para a manutenção da natureza como a conhecemos.

O maior gênio de todos os tempos não pareceu ser um destes ao profetizar, em uma frase atribuída a ele: "Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, ao homem apenas restam quatro anos de vida. Não há abelhas, não há polinização, não há plantas, não há animais, não há homem" (Albert Einstein).

Não acredito que esta frase de efeito carrega a verdade no tempo previsto, mas tem tudo para carregá-la no fato consumado; então, se você, caro leitor deste texto – intencionalmente escrito em tom apocalíptico – ainda não entendeu o que está acontecendo, sinta a dolorida picada: tem um grave problema ecológico acontecendo no mundo em que as protagonistas são as abelhas – e se nada for feito, elas podem ser EXTINTAS!

E não se iluda:

Se as abelhas desaparecem da terra, nós iremos de carona com elas, montados em suas asas derradeiras.

A janela da vida é muito pequena, e o equilíbrio da natureza extremamente complexo e sensível, provado pelas cinco extinções em massa que já ocorreram no passado do planeta terra.

E não, não adianta tentarmos amenizar este evento com o uso de mecanismos de fuga racionais, pois não se trata de uma nova teoria conspiratória, nem de uma nova palavra de ordem gritada por "eco-chatos"; tampouco é uma hipótese em que os próprios cientistas divergem, como no caso do aquecimento global (agora quase unanimidade). É um fato que já está trazendo prejuízos bilionários para a economia global – e só vem aumentando! Pesquise por "Desordem do Colapso das Colônias (DCC)" e veja por si.

Você lerá, entre outras informações relevantes, que os estudos realizados até o momento demonstram ser real aquela primeira desconfiança que vem à nossa cabeça – derivada de uma culpa indisfarçável: somos nós os responsáveis por tal calamidade! Pesticidas, poluição, aquecimento global, redução da diversidade e outros elementos destrutivos que criamos: este são – com destaque para o primeiro – os ingredientes principais do molho venenoso que alimenta esta tragédia de dimensões globais e que pode marcar um antes e um depois na história da vida no planeta e, por conseguinte, da humanidade.

E para não dizer que não falei de flores... pode-se dizer que no inconsciente coletivo da humanidade a imagem destes insetos está envolta em uma aura mágica, como se estes fossem trazidos diretamente do mundo dos elementais: eles polinizam as plantas, ajudando a prover nosso alimento; eles se alimentam de doces néctares sugados de coloridas e perfumadas flores; eles nos dão o dulcíssimo mel!

Além disso, vivem neste planeta como trabalhadores incansáveis há quase 100 milhões de anos. Até esta angustiante notícia reverberar mundo afora, as abelhas nos pareciam praticamente eternas.

Mas estão morrendo aos milhões e colmeias inteiras desaparecem, literalmente, do dia para a noite! 

E, por este motivo, são as abelhas protagonistas e mensageiras de uma tragédia que há tempos estamos ensaiando no grande palco planetário.

A verdade é que quando me deparei pela primeira vez com esta preocupante notícia, ano passado (2013), não pude deixar de sentir um medo estranho. Sou Físico, trabalho fazendo ciência em ambiente de laboratório, e por conta desta formação fui treinado para ser racional a maior. Tampouco sou adepto de teorias de conspiração; aliás, sou bem cético quanto à maioria absoluta delas.
Contudo, se assomou em mim um sentimento complexo quando tomei ciência do DCC: um misto de medo, apreensão e angústia! Naquele momento antevi uma ruptura – não tão distante como se possa pensar – do ciclo da vida como conhecemos, resultando em um meio ambiente mais pobre, com menos alimentos e seres viventes: o cenário perfeito para a sexta extinção em massa!

Um mundo semi-morto nos espera?

Foi um medo, em tudo, apocalíptico! Mais do que o aquecimento global, mais do que uma (sempre possível) nova guerra fria ou terceira guerra mundial; mais do que a ideia de asteroides gigantescos vindo em nossa direção (possibilidade esta também não desprezível).

É... as abelhas não são eternas, a natureza não é infinita, e a terra é uma só – apenas uma pequeninha rocha flutuando na imensidão do universo! E nós, apenas uma centelha, um milésimo de segundo perante a escala de tempo da vida.

Por estes motivos, a equiparação – já explorada em textos e vídeos espalhados por aí – me foi inevitável: me senti como verdadeiro integrante de uma casta de vírus que se reproduz descontroladamente e mata seu organismo hospedeiro. Não! Muito pior, porque os microrganismos não têm as tais "faculdades cognitivas superiores" (???) para inferir que, destruindo aquele mundo que lhes provem – enquanto vivo – tudo que lhes é necessário para sobreviver, morrerão também!

...

Estes somos nós?

Falta-nos algum tipo de inteligência, aquela que nos daria a noção de interdependência?
Ou somos nada mais nada menos do que megalomaníacos cegos, perdidos em nossas fantasias de omnipotência?

Temi, pela primeira vez, que a natureza estivesse verdadeiramente reagindo contra nossas ações destrutivas – tema central de muitos livros e filmes de ficção. Senti como se este acontecimento fosse a manifestação real da fantástica ideia de que a natureza se vinga; como se tivéssemos entrado numa espiral sem volta, resultado de nossas próprias ações e de um modus operanti suicida, produzida por uma espécie que se acha desvinculada e acima da própria natureza que a criou.

É o início do fim?
O carma humano está sendo resgatado do livro da vida pela mãe-natureza?
A lei de causa e efeito está finalmente agindo e se prepara para cobrar nossos crimes?

Causa e efeito... este conceito é, em tudo, classicamente físico e uma lei universal! Colhemos o que plantamos (Ciências Agrárias); tudo que sobe, desce (Gravitação de Newton); pequenas ações podem determinar grandes eventos futuros (Teoria do Caos); chutamos uma pedra e ela nos devolve o golpe com uma força de igual intensidade (Terceira Lei de Newton ou Princípio da Ação e Reação).

Enfim, estamos girando a roda que move o moinho sem pensar no amanhã e muito menos no que será triturado – e é aí que nascem das sementes que plantamos espinhos para perfurar nossa carne, e a pedra lançada e agredida pode quebrar nossa cabeça e machucar nosso pé, para que, assim, aprendamos nossas lições – crianças que somos experienciando todos os limites.

A verdade é que não existe uma segunda terra, e o tempo é uma flecha que só voa para frente. Na vida e na natureza existem muitos limites que, se ultrapassados, não haverá a oportunidade de se retornar para restaurar o que foi perdido. Indubitavelmente, uma eventual extinção dos insetos polinizadores é um destes limites, com previsões (quase unânimes) da gênese de uma sequência de eventos catastróficos que comprometerá o mundo como conhecemos.

Assim, pode-se afirmar que, se as abelhas desaparecerem por conta de nossas "burrações" (*), não sairemos somente feridos: definharemos aos bilhões pela diminuição drástica dos alimentos que o meio pode nos oferecer.

Ah! Morte grande, sofrida, chorada... o que se veria seriam séculos de ininterrupta e crescente bancarrota alimentar, subnutrição generalizada, fome, guerra, peste, morte, extinção... (se não como espécie, como civilização).

"É o final da vida e o início da sobrevivência" 

Vamos continuar agindo de forma arrogante e idiotamente suicida perante a natureza? Não vamos considerar este aviso pré-apocalíptico (provavelmente o maior de todos)?

E quando os seres humanos começarem a desaparecer também?

Que a mãe natureza possa nos perdoar, e nos ensine – em tempo e não com tanta dor – a viver em harmonia com o mundo e todos os seres que nele habitam: aqueles com quem compartilhamos este que é nosso único lar possível, nossa casa, fonte de calor, água, alimento, beleza e vida: o planeta Terra.

“Somente após a última árvore tiver sido cortada,
somente após o último rio tiver sido contaminado,
somente após o último peixe tiver sido pescado,
somente então vocês entenderão que dinheiro não se pode comer”.


(Provérbio indígena do povo norte-americano Cree)


Agosto-Setembro / 2014


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(**) "Burração": neologismo efêmero, nascido para viver somente neste bioma de letras, constrito aos domínios deste texto. Foi aqui criado para ilustrar e adjetivar as ações que os seres humanos fazem com interesses puramente imediatistas, nada holísticas, ameaçando o futuro deles mesmos. Resulta da contração dos termos da expressão "ações burras": perfeito adjetivo para a exposta falta da inteligência que nos daria a "noção de interdependência". É em tudo similar ao conceito de "inteligência emocional" que, estando em falta, destrói a vida de quem esta foi suprimida (porque, sem tal atributo, este só materializa... "burras ações"!). A diferença é que, no caso maior considerado aqui, de “burração” em “burração” vamos diminuindo nossas condições de vida e ameaçando nosso próprio futuro no planeta Terra.

2 de set. de 2014

Linchamento no Poste Virtual - em Defesa da Gremista do Grito Racista.

Sim, venho aqui defender a garota.
Não, não a acho inocente.
Sim, acho que ela deve pagar o crime cometido.

Contudo, existe um negócio chamado bom-senso.
E existem também as leis.
E mais: existe uma parte da sociedade extremamente violenta - aqueles que lincham meninos negros amarrados em poste, e também a senhora branca de Bíblia na mão porque achavam que ela era feiticeira (não, isso não é na África!).

Óbvio que essas pessoas estão na Internet também! E estão atacando apenas virtualmente porque não tem acesso à pessoa, porque se tivessem, o fariam fisicamente até esfacelar seu crânio.
Mas só o fazem em grupo ou com a certeza do anonimato, porque são todos COVARDES.
A casa já foi atacada.

Movidos pelo desejo de agredir, de matar, essas pessoas só precisam de um motivo para se sentirem livres para soltar seus demônios e dar vazão à sua gana assassina, seu desejo por sangue.
Não, não são pessoas boas revoltadas. São os que atiram pedras na mulher enterrada até a cabeça no chão para matar a "indigna".

Por isso, a gremista que encetou a cena de racismo gritado e televisado, deve ser protegida da horda sedenta de sangue para, até, ser julgada na forma da lei, pagar seus débitos e crescer como ser humano.

Um dado que me ajudou a formar uma opinião sobre o assunto foram as entrevistas realizadas com vizinhos negros da menina, que conviveram com ela, interagiram com ela, receberam-na em sua casa, e foram tratados com respeito e bom humor por ela. E por terem essa visão maior do conjunto complexo que é este ser humano que cometeu um erro, estão defendendo-na e, como disseram, estão com ela até o fim, apesar de acharem que deve haver o seguimento dos tramites legais. Mas nada mais que isso.

Há que se ter cuidado com vídeos. Uma narrativa do acontecido, apesar de definir perfeitamente o ato, teria muito menos peso e mais bom-senso.

Tudo bem, ver a cena induz o sentimento de revolta. Mas como seus vizinhos com propriedade disseram (porque tem mais informações que nós, o que dão a eles uma visão mais abrangente), "ela é uma menina normal que foi no embalo da multidão" e merece seguir a vida depois de pagar o erro cometido.

E que se encontrem e processem os outros espectadores que também protagonizaram cenas terríveis, caso contrário não haverá justiça - apenas um bode expiatório.

O que a garota fez foi feio de se ver e de se sentir, quando empaticamente nos colocamos no lugar do agredido, mas tudo tem a sua medida e seu recipiente.
Se é para se julgar, que seja sem ódio obnubilante e com visão de conjunto.
Este é um caso para 20 anos de reclusão? Para pena de morte? Óbvio que não.
Muito menos para linchamentos, que deve ser sempre REPUDIADO de todas as formas.

Não para a violência e o ódio, sempre!

O Jogador aranha, ao qual acompanhei várias falas e passei a admirar como pessoa, com certeza está com este espírito de que as coisas se deem no sentido de amenizar os ódios, os preconceitos, de haver uma mudança, e não mais violência.

Sim, é tanta raiva expressa, vinda de tantas pessoas, que a menina está pagando muito mais do que deveria! Que ela seja julgada. Que pague, que indenize financeiramente o Jogador por danos morais, se assim a justiça entender.
Mas, depois de pagar tudo que deve, espero que volte tendo aprendido sua lição e se recupere em todos os sentidos.

E que seja acolhida como pessoa melhor, se assim mudar.

Cuidado com todo ódio. Se você o sente, seja por que motivo for, ligue todos os alarmes: o lobo que existe em você está bem alimentado!

1 de set. de 2014

O Operador Morte: de Getúlio Vargas a Eduardo Campos

Em um texto anterior (aqui), brinquei com uma analogia na vida e na sociedade do conceito de operador: um ente matemático tal como a raiz quadrada de um número, a soma e subtração – ou mais complexos como os que atuam na Mecânica Quântica – transformando uma função em outra, mudando o estado daquilo que sofre sua atuação.

Achei interessante – num exercício de livre-pensamento – a transposição deste conceito matemático para conceituar aqueles eventos transformadores das coisas da vida e do mundo – tal como as pessoas, instituições e países.

Por conta desta ação, tudo é transportado de um estado anterior para outro, ulterior – que pode ser melhor ou pior, maior ou menor, mais simples ou mais complicado.

Dentre os muitos operadores possíveis para as hiper-complexas equações humanas, existe um que surge (como uma das únicas certezas humanas) e muda tudo, sempre.

Este super-operador é a senhora MORTE.




Poderosa e isenta de dúvidas –  inescapável extintora da vida, desagregadora das moléculas do corpo – faz o despejo da alma.

Ocasiona, também, ao meio onde o ente "operado" viveu, dor, vazio, comoção e outras transformações. Por tabela, muda a vida de muita gente - as vezes de nações inteiras!

Mas a mais pitoresca (e irracional) ação deste operador é tornar os atos do ex-vivo – principalmente os que antecederam imediatamente a morte – em algo transcendente, repleto de significado.

A morte operadora suprime  (ou mascara) a "parte má", e exalta (ou diviniza) a "parte boa" da pessoa extinta – se assim puder ser, de algum modo, interpretada. Além disso, pode gerar uma reação de aversão (ou revolta) sobre aqueles que estavam, antes, hostilizando o ente falecido, fato este que pode minar a força e poder de seus adversários (se existirem), e trazer acusações de toda sorte.

Após a operação desestabilizante de extinção da vida, a morte pode transformar um vilão em herói; um assassino/genocida em mártir; um ditador em pai da pátria!

Pode-se também, através deste operador, "sair da vida para entrar na história".

Getúlio Vargas, autor da frase acima, em 2014 volta à mídia devido ao aniversário de 60 anos de sua morte, operada por ele em si mesmo através de um ato suicida.

Outra morte em evidência nestes dias pré-eleições – e exemplo perfeito dos efeitos aqui pressupostos (e o motivador destes escritos) – foi a do candidato à presidência da República Eduardo Campos, em um fatídico acidente de avião.

Me chamou muito a atenção esta coincidência. Duas mortes que transformaram, traumaticamente e repentinamente, a cara do Brasil.

Exemplos de outros passamentos repletos de significado para o país foram as de Tancredo Neves, Tiradentes, Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães.

Getúlio Vargas, 1954, sabia deste poder operatório e transformador da morte, e se utilizou destas propriedades para inverter a favor de seu grupo o estado político do Brasil à época. Vivia o famoso brasileiro, em seus dias derradeiros, uma situação entendida pelos historiadores como sem saída: ora denominado ditador, ora "pai dos pobres", estava – mesmo na condição de presidente eleito – para ser deposto pelas forças armadas e ser preso.
A morte operada por suas próprias mãos foi a solução encontrada por ele para esta situação –
calculada para ser um ato, antes de tudo, político.
A comoção nacional ante tão forte e tresloucado ato, traria tanto simbolismo e significado que iria destruir os planos de seus adversários, forçando-os a se colocar na defensiva. A força de seu suicídio traria a vitória, e Getúlio, morto, sairia para sempre do palco da vida para deitar, vitorioso, no berço esplêndido da nação. O poderoso operador morte levaria a nação de um estado a outro!

E assim foi: a operação mudou totalmente a função Brasil-1954, e com ela o estado das coisas e o destino da nação (como está amplamente registrado nos livros de história).

Tempos atuais: Eduardo Campos, 2014 – terceiro colocado nas pesquisas para presidente da República – dificilmente sairia desta colocação; segundo informações, ele sabia disto e sua verdadeira intenção seria de se projetar nacionalmente – com olhos fixos nas próximas eleições.

Marina Silva, a ecologista ex-companheira de Chico Mendes, a mulher franzina de projeção nacional, filha da floresta amazônica, era sua candidata a vice – posição acatada depois de muitas atribulações partidárias, pois a intenção mais profunda de Marina era a de concorrer à presidência – o que não pode fazer por força das circunstâncias.

Foi uma trama de acontecimentos difícil de entender que a levou a esta situação, e somente um fato excepcional tornaria possível seu desejo de mudar o estado: de candidata a vice para chefe do poder executivo.

Estavam, então, a poucos meses da eleição, com estabilidade de índices onde a disputa, se houvesse, seria polarizaria entre os dois outros partidos que há muito tempo se revezam no poder; mas, inesperadamente (como comumente acontece – sorrateira que é a moça da foice), a morte operou: um acidente de avião misterioso e fatídico que, ao explodir na cidade, desceu como uma bomba sobre a nação.

"Não pode ser verdade!" "Como?" "Porque?" "Parece coisa do destino".

Esta é a primeira ação das tragédias: o assombro, a dificuldade de acreditar; depois vem a busca do entendimento, dos porquês; em seguida a aceitação e adaptação, entremeada de teorias conspiratórias.

No meio de todas destas fases, a outra ação do operador-ceifador é tornar tudo maior que era: se antes se tratava de um "simples" candidato com seu índice de aceitação e de rejeição bem definidos (e com as inevitáveis denúncias e montagens na Internet sendo feitas como sempre se vê), Campos agora era o elemento surpresa, o salto no gráfico, o dono das emoções e pensamentos da nação.

A trajetória do falecido ganhou destaque e importância, impregnadas de uma certa "aura luminosa" de predestinação, onde até as coincidências são supervalorizadas: na sua última entrevista na TV, sua frase de efeito dita no encerramento, "não desistam do Brasil" soou, diante da tragédia (ocorrida logo após) como mantra, profecia, mandamento!

Tudo ganhou importância, ares de predestinação, de destino!

Por conta desta atmosfera, os adversários foram colocados em uma posição delicada.  Falar mal não seria mais de bom tom. Aliás, melhor entrar na onda e dizer que se é o verdadeiro herdeiro do legado do falecido. E foi o que aconteceu.

Por outro lado, os olhos se voltaram rapidamente para Marina. A equação, transposta de estado pelo operador morte, fechava a conta nela. Com a ex-seringueira como candidata no lugar de Campos, o destino parece se cumprir!

É uma mensagem subjacente, sentida, cheia da energia que vem do assombro e da estranheza. É o sentimento de predestinação.

Este é o exemplo perfeito da força das tragédias e da morte, de como eles brincam com a emoção de uma coletividade, transformando tudo, virando as peças de pernas pro ar e gerando uma nova realidade.
Tudo que foi dito aqui pode ser visto e sentido objetivamente olhando o gráfico com as intenções de voto desde antes do acidente:
Fonte: Blog Brasil Decide.

Assim, ao que tudo indica, o futuro do país tomou um novo rumo. Sai-se, por conta do acontecimento, de uma dicotomia de partidos e entra-se em uma terceira via; Marina, uma surpresa fora do comum desde outras eleições, sofre um golpe do destino a seu favor.

Se continuará assim, se será bom ou ruim, eu não sei, mas que foi mais um episódio histórico derivado de uma morte significativa para ser sempre lembrado – e que está desenhando novos caminhos para o Brasil – ninguém pode negar.

Somente o frio operador morte pode gerar transformações tão intensas em tão curtos períodos. Sai-se da vida e, indubitavelmente, se entra na História.

Contudo... que Deus nos livre deste operador!

DiVal.

19 de jul. de 2014

Elefantíase Impiedosa

Elefantíase é a manifestação mais grave da doença chamada filariose, caracterizada pelo aumento excessivo do tamanho dos membros do paciente. Impiedosa é a pessoa que não expressa compaixão, desumana, cruel.
"Elefantíase impiedosa" é como vou chamar aqui uma maldade do tipo "GGG" que certos "humanos" são capazes de infligir a outro ser senciente – bicho ou homem. Extra grande porque é cronificada e contínua: dia após dia, ano após ano, década após década – o acúmulo e o cúmulo da crueldade continuada.

Mais especificamente, a expressão me surgiu vendo este triste e emocionante caso recém-noticiado (10/07/2014):
http://www.wildlifesos.org/blog/rajus-journey-freedom-photo-journal
Elefante Raju (Índia): libertado após passar 50 anos preso com correntes e argolas fabricadas com pontas perfurantes, o animal chorou de emoção ao se ver livre!

Segundo a fundação Wildlife SOS UK, responsável pela libertação do elefante, este passou 50 anos preso – praticamente todas as horas destes anos todos – por correntes com pregos, que causavam lesões e não o deixavam se movimentar, nem nos limites das correntes.
Sim, argolas com pregos nas patas, ao modo de uma crucificação de 50 anos, infligida por animais (des)humanos.
Essa restrição ininterrupta de movimentos causou uma dolorosa artrite no animal, além das outras agressões físicas que sofria e da fome eterna a que era submetido.

Bodas de ouro no cárcere, bodas de ferro em carne viva, bodas vermelhas de sangue.

Advirto: tentar se colocar no lugar do animal e sentir o que ele sentia, causa depressão.

Segundo seus salvadores, quando o animal percebeu que estava livre após tanto tempo de sofrimento, lágrimas de emoção rolaram de seus olhos.
Forte imagem! É como se toda natureza se expressasse ali, naqueles olhos paquidérmicos subnutridos.
Triste imaginar que todos estes anos de convivência não geraram nenhuma afeição por parte dos humanos que estavam diariamente com Raju.
Crueldade do tamanho do majestoso animal, insensibilidade elefantíaca.

Não há como ter certeza que houveram mesmo estas lágrimas, pois não foram registradas, mas com certeza houve a emoção que as geraria. Se não pode concordar de cara com esta afirmação, existem outros casos que vão no sentido de corroborar esta afirmação, como os a seguir (o primeiro, um mamífero humano; os outros, vários casos com outros seres sencientes – estes com vídeo):
  • Menina mantida 17 anos em cárcere privado: Reportagem.
  • Vacas pulando de alegria ao serem postas em liberdade, após uma vida como matrizes de leite: Aqui.
  • Chimpanzés sendo libertados após 30 anos presos em um laboratório. Alguns nunca tinham estado fora da sala: Aqui
  • Outro caso com chimpanzé : Aqui.
  • Cães resgatados, cobaias de um laboratório, veem o sol pela primeira vez: Vídeo.
  • Leão sendo libertado já velho e doente (dos 40 aos 60 segundos). Comovente (mas desconsidere algumas cenas açucaradas)! Vídeo:



Vendo as cenas do leão na hora da libertação – extremamente didático para uma humanidade doente – as imagens resgataram da minha memória (mais do que as imagens, a "atmosfera emocional") o conto "Negrinha", de Monteiro Lobato (1920).

Um resumo: Negrinha – nascida na senzala e órfã aos quatro anos – era a menina dos olhos maus de dona Inácia; dona das mão pesadas como chumbo, dos beliscões caprichados dados por seus dedos duros e frios como o aço do alicate. Negrinha não podia brincar, não podia chorar (nunca pôde). Era mero instrumento de alívio sádico de uma mulher de "virtudes apostólicas", como dizia o vigário:
"O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!..."
Um dia, quando Negrinha já tinha sete anos, desceram dois anjos à casa. Duas meninas loiras, sobrinhas de dona Inácia e nascidas em berço de ouro. E elas brincavam! "Porque dona Inácia permitia outras crianças brincar?". E, assim, somou-se às dores de Negrinha a dor da injustiça.
Mas como toda criança é novidadeira, Negrinha foi levada pelas meninas, pela primeira vez, a brincar. Aventura das aventuras! Ao pegar – também pela primeira vez – uma boneca nas mãos, aconteceu:
"Negrinha olhou para os lados, ressabiada, com o coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si, literalmente... era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo" (...) "Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa –e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa" (Grifos meus).

Por acaso o vídeo não mostra que sentiu-se assim, de alguma maneira, o leão? É ao modo desta imagem perfeita da opressão e crueldade sobre um ser de menor poder, construída pelo grande escritor Monteiro Lobato, que imagino sentir-se este leão no seu momento com anjos, bem como todos os animais – humanos e não-humanos – libertados após uma vida de aprisionamento e maus tratos. O ambiente de exuberante natureza era seu céu; ali, pela primeira vez, ele podia brincar! É o momento mágico de libertação de uma vida de sofrimento e privação – do tipo que faria um animal do tamanho do elefante chorar. Penso que também para estes animais, de quem roubaram a vida e a majestade, seria impossível viver de novo uma vida de objeto.

Se a sociedade e a cultura humana atuais tornam demagogas as ideias de libertação dos seres sencientes chamados de irracionais, que pelo menos eles tenham o mínimo de condições para sentir um pouco da beleza do mundo; uma vida rica o suficiente para ter valido a pena – mesmo na condição de escravos de humanos e reserva proteica – viver.

Acredito que a humanidade – como raça e sentimento – se desenvolverá com o tempo e, um dia, teremos na terra, naturalmente, uma elefantíase piedosa, onde nenhum animal precisará ser libertado, pois todos serão, por regra, livres da vida de coisa.


EdiVal
19/07/2014
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Um texto para iniciar 2015 refletindo...:




PRECE DE FINAL DE ANO A UM CAVALO

Por Marcio de Almeida Bueno

MARCIO 131212 anda vang

ADICIONAL:

19 de jun. de 2014

Enjoados de Photoshop: Por Menos Desenho e Mais Fotografia!

Estamos enjoados de ver mulheres desmesuradamente "photoshopadas".
Mulheres desnudas de variações e de tons, quase translúcidas.
De monótono tom perolado.

É moda um tal de branqueamento e uniformização da cútis sem fim, em uma produção em série de mulheres do tipo - como diria Guimarães Rosa - baratas descascadas!

De afrodescendente à branquela dos cachinhos dourados: tendência onipresente do clareamento uniformizante no mundo da imagem, como que a desvestir a modelo de sua própria pele.
A fotomontagem acima mostra uma manipulação da imagem tão hiperbólica que permite a licença humorística (olhe e reolhe e veja se não ri!) e mostra que, indubitavelmente, photoshop em exagero falseia, engana, ilude:
  • O que se vê, não é;
  • O que parece estar, não está;
  • O que não está, estava.
As possibilidades de transformação dos atuais softwares de edição de imagens é tanta que é justo se desconfiar que a aparente finíssima cintura da modelo da capa de sua revista preferida pode provir, na verdade, de uma conjunção de tecidos adiposos pertencente a uma silhueta convexa, e a "pele de pêssego" pode ter, em sua origem, uma cútis idêntica a um protuberante abacaxi!
Enfim, aquelas proporções perfeitas, o corpo escultural e a pele uniformíssima do rosto da "gata-da-capa" mostrados na revista preferida podem ter como matriz geradora um corpo assimétrico-disforme-decadente!


A verdade é que se, inicialmente, o olhar é atraído para uma bela modelo super trabalhada em photoshop, um segundo olhar - mais atento - geralmente traz um "q" de estranheza, seguido de uma sensação de estarmos sendo enganados, que cresce rapidamente e mata qualquer admiração de longo período.
É fato inescapável: na maioria das vezes o exagero de edição traz uma sensação de irrealidade, falseamento ou mesmo de surrealidade, como se estivéssemos vendo uma personagem fictícia retirada diretamente de um anime japonês.

Fazendo-se uma revisão no mundo da moda e da imagem, descobre-se que o exagero de uso do recurso é tanto que, periodicamente, surgem verdadeiras aberrações:
  • Sumiço de umbigos das modelos;
  • Pescoço e pernas deslocadas em relação ao eixo do tronco;
  • Assimetrias de forma e tamanho de um lado do corpo em relação ao outro;
  • Cinturas e pernas tão finas que fariam a Barbie sentir-se "enorme de gorda".
E um outro tanto de barbaridades que somente um mundo que se distanciou das pessoas reais - mesmo das já "quase" perfeitas - pode produzir! Acha exagerada a colocação? Olhe a figura abaixo e concorde em gênero, número e grau:

Da beleza natural exuberante à boneca de plástico: excesso de photoshop que motivou uma campanha da supermodelo Gisele Bündchen contra o uso excessivo desta ferramenta.

Esta realidade já há algum tempo está em discussão no mundo da moda. Fala-se da influência destes estereótipos na cabeça dos jovens, produzindo insatisfação eterna com o próprio corpo, anorexia, e até mesmo suicídios.
Por conta deste fato, muitas reações vem acontecendo, tais como:
  • Nossa bela e famosa Gisele Bündchen iniciou uma campanha pessoal contra o uso excessivo da ferramenta, depois de ser "vítima" do excesso de manipulação, conforme mostrado na figura acima;
  • Leis sendo feitas e discutidas para tornar obrigatório um aviso do uso de manipulação digital, similar ao que acontece com cigarros (veja aqui); 
  • Campanhas de beleza sendo banidas por excesso de photoshop (aqui); 
  • Campanhas mostrando a "beleza real" da mulher (youtube); 
  • A revista feminina Verily dispensou o uso de photoshop, ou a revista feminina (chilena) Ya que anunciou que trabalhará somente com modelos maquiadas, mas nunca retocadas por photoshop (entre no site destas revistas e veja por você mesma(o) se o uso do software fez falta...).

Digite no Google "antes e depois do photoshop", e veja por si! Olhe outro exemplo abaixo:

Madonna: antes e depois do photoshop, mostrando um "produto" final irritantemente fora da realidade.

E que se registre em todos os anais do mundo do glamour e da sensualidade: na imensa maioria das vezes seria muito, mas muito mais interessante - pelo menos para um Homem - ver a mulher real!
Real, mas com direito a toda a produção, roupas, cenário, cabelos, ângulos e bocas que valorizem suas formas e características interessantes - e sim, pintura é aceitável!

Aproveitando a ideia acima, pode-se destacar outro fator muito importante e que não se vê discutido por aí, pelo menos não com o peso que deveria ter:
Uma trabalho de edição no computador, ao possibilitar a construção, desconstrução e reconstrução sem limites (ad infinitum) da imagem digital, concentra a maior parte do trabalho em cima de um profissional da área: o operador do software. Assim, onde vários criativos e talentosos trabalhadores poderiam estar agindo e interagindo em dinâmica atenção à modelo, o falsário computador reina...

Outro fator de igual ou maior valor: onde fica a valorização de quem se cuida verdadeiramente? A modelo que leva uma vida saudável, se exercita, estuda e corre atrás, por exemplo, construindo sua beleza plástica e sua graça. Não devemos sair do mundo do faz de conta e recompensar o que é real? Valorizar a genética, o esforço pessoal, o sex appeal e o investimento em si mesmo?

E aí, "mercado da imagem", necessitando disfarçar os "terríveis" defeitos de uma celebridade?
A pele manchada e enrugada da artista de novela que nem passa perto do que a telinha tenta passar?
A celebridade que já está na terceira idade e que necessita ser "apessegada"?
Dobras se sucedem na cintura delas e constroem um engavetamento de material circular?

Deixem para os profissionais da maquiagem, da fotografia, de iluminação, de construção de cenários! Para os personal stylist e personal trainers! Estes trabalhadores talentosos são especialistas na valorização do que o ser humano a ser clicado tem ou pode ter de melhor, mais bonito, mais chamativo.
Quanta criatividade, força de trabalho e talento que podem estar sendo desvalorizados por um programa de computador! Quanta beleza real ignorada!

A verdade é que deveria ser uma ofensa para a mulher necessitar ser inteiramente modificada para se tornar publicável em um número de revista.

Tudo bem, não sejamos fanáticos intransigentes: um suave photoshop poderia ser utilizado (afinal o operador é um talentoso profissional!).
Mas que seja suave, leve, e nunca trabalho de escultor.


Nós, os consumidores, podemos dar o tom! Nosso bolso é nossa arma. Reclame da imagem muito alterada, bote em discussão!
Que os amantes da beleza honesta boicotem os exageros "photoshopísticos"!

Viva a beleza real!
Viva a valorização do que existe de verdade, e não do que vem ao mundo como um desenho gerado no computador!

E que a beleza seja eterna enquanto vinda de um corpo e rosto sinceros.



Dival (aquele que prefere a mulher real).

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Um exemplo de criatividade que valoriza o uso do photoshop: Beleza do mesmo rosto de acordo com as preferências de 25 países.
http://www.buzzfeed.com/ashleyperez/global-beauty-standards
No projeto “Before and After“, uma foto foi enviada para diferentes artistas digitais, objetivando o uso da ferramenta do para "direcionar" a beleza de acordo com as preferências do país.


8 de jun. de 2014

Os Fótons, a Luz e outras Radiações: Entendendo para Desmistificar

Os fótons - este ente misterioso e objeto de estudo da Física - tem tudo a ver com essa luz que nos alumia.
Também com algumas maléficas radiações que - veremos porque - devemos evitar.
E com enganos/engodos nada iluminados em textos cientificamente obscuros.

A motivação para escrever este artigo foi, primeiramente, a ideia de que um conhecimento (mesmo que superficial) acerca do que são e como agem estas entidades físicas, contribuiria para que as pessoas evitassem certas radiações destrutivas - chamadas de ionizantes - a que estamos expostos diariamente (ou eventualmente). Mais especificamente, vejo constantemente pessoas comprando óculos de sol de camelôs, sem os imprescindíveis filtros, ou tostando ao sol, sem filtro solar.

A segunda motivação vem do fato de que é generalizada a falta de consistência e do entendimento físico mínimo em muitos textos da Internet, quando se toca nos temas fótons, luz e radiações.  Outro dia, por exemplo, vi alguns absurdos científicos em um texto esotérico/apocalíptico envolvendo os misteriosos fótons - a meu ver aproveitando a falta de familiaridade da maioria das pessoas com o tema. Um exemplo é este parágrafo:

"Em 1961 informações de satélites descobriram uma faixa de FÓTONS ou ANEL MANÁSICO que a Física não conseguiria explicar, envolvendo o sistema das Plêiades da qual, na verdade, nosso sol e várias outras estrelas também fazem parte. Assim, nosso Sol orbita este sistema em num período de 24.000 anos, durante os quais nós passamos alternadamente 10.000 anos na escuridão e 2.000 anos na luz do cinturão. Neste momento, estamos na premência de entrar na luz de novo, levando nossos átomos à uma SUTILIZAÇÃO. Outra maneira de ver esse fenômeno seria: numa órbita completa, temos aproximadamente cinco sextos de trevas e aproximadamente um sexto de luz, ou uma proporção de 5:1, com predominância das trevas...."

Constelação de Plêiades
Muitos argumentos a favor ou contra o texto surgiram. Os familiarizados com a área da Física (Astrofísica, Física de Partículas e de Campos) enxergaram erros crassos na teoria, tanto físicos quanto astronômicos. Também pode-se identificar elementos clássicos dos hoaxes, ou e-farsas, como a não citação de fontes. Só "googlar" que aparecerão alguns textos sobre o assunto.

O fato é que "fótons", luzes e radiações parecem entes muito misteriosos...e são! Mas não no sentido que certos textos se aproveitam.

Minha intenção não é criticar de alguma forma quem leva ideias como as do texto acima em conta, mas existem muitos pecados dentro da argumentação científica que finge desenvolver, fato este que enxergo com certa clareza por ser da área.

Desta maneira, com a visão de físico, vi que não existe nada na Internet que esclareça, especificamente mas de maneira ampla, o que é importante para uma pessoa não familiarizada com Física saber sobre os misteriosos FÓTONS. Neste sentido, se discorrerá aqui um pouco sobre este tema, mas em linguajar simples pois, sendo a linguagem da Física a matemática avançada, só quem é de áreas afins tem obrigação de compreender.

Então vamos lá, começando com um pouquinho só de definições e teorias:

FÓTON é a partícula elementar mediadora da força eletromagnética. É um quantum de energia da radiação eletromagnética (ou - mais romanticamente - poderia até ser chamado de "a partícula quântica da luz"!).
De acordo com a dualidade partícula-onda (descrita pela mecânica quântica), um fóton pode atuar como uma partícula, como quando sensibiliza um filme numa câmera, ou como uma onda, por exemplo quando passa através de uma lente ótica.
Já de acordo com a relatividade geral, no espaço vazio os fótons (luz, radiação) estão em perpétuo movimento e viajam à velocidade da luz (299.792.458 metros por segundo) em uma linha reta, depois de se levar em conta a curvatura do espaço-tempo. Isso quer dizer que fótons só podem desviados de alguma maneira da trajetória reta, no espaço, pela presença de um campo gravitacional, como os gerados por astros celestes ou buracos negros.

O que chamamos de LUZ VISÍVEL- tão importante para nossa existência - é formada por uma grande quantidade de fótons, tendo a sua intensidade ou brilho dada pela quantidade dos mesmos que se encontra no fluxo que chega a nossos olhos. É digno de nota que a luz que nos permite enxergar o mundo é apenas uma insignificante faixa do espectro eletromagnético, um minúsculo fio na trama universal.

Tendo os conceitos acima em mente, observa-se que o fóton, ao se manifestar nas mais diversas frequências, forma o chamado "ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO" (mostrado na próxima figura), que é o intervalo completo das RADIAÇÕES (ou ONDAS) eletromagnéticas, e começa com as ondas de rádio e vai até a radiação gama (ou raios γ). Como toda onda, a radiação eletromagnética (como a faixa da luz visível) carrega energia, tem uma freqüência (f) característica (dada em ciclos por segundo) e um comprimento de onda (λ), dado em metros.
No caso de ondas eletromagnéticas que se deslocam no vácuo, temos f = c/λ, em que c é a velocidade da luz no vácuo. Essa expressão diz que quanto maior a frequência, mais energia a onda carrega e menor é o seu comprimento de onda.

A elucidativa figura abaixo está no site do Wikipédia no tema "espectro eletromagnético" (leia, está bem elaborado!):

Espectro Eletromagnético


Energia>>          Freqüência>>       <<Comprimento de onda
----1---------2---------3---------4---------5---------6--------7----

Pela figura, pode-se ver claramente que o espectro eletromagnético é um continuum, não existindo subdivisões "reais", mas alguns nomes são dados de acordo com alguns intervalos de interesse, tais como:
  1. Ondas de Rádio. Freqüência de 30 MHz a 3 GHz; Comprimento de onda: 10 m a 10 cm.
  2. Microondas. Freqüência: 3 GHz a 30 GHz; Comprimento de onda: 10 cm a 1 mm.
  3. Infravermelho. Freqüência: 300 GHz a 400 THz; comprimento de onda: 1 mm a 700 nm.
  4. Luz Visível. A radiação visível vai, aproximadamente, de 400 THz ("lado" do vermelho) até cerca de 769 THz ("lado" do violeta); comprimento de onda: 780 nm a 390 nm.
  5. Ultravioleta. Freqüência: 750 THz a 300 PHz; comprimento de onda: 400 nm a 1 nm.
  6. Raios X. Freqüência: 300 PHz a 60 EHz; comprimento de onda: 1 nm a 5 pm.
  7. Raios Gama. Freqüência: ~ 60 EHz a 300 ZHz/300 YHz; comprimento de onda: ~ 5 nm a 1 fm/1 am.
                                                (Obs.: 1 nm (nanometro)= 0,000000001metros)

O comprimento de onda determina com que ou quem a radiação vai interagir para transferir sua energia. Veja que dados interessantes (atenção especial aos dois últimos!):
  • Ondas de rádio tem essa medida dada em metros, e por este motivo interagem com grandes objetos, como casas.
  • Microondas: Tem seu comprimento de onda na casa dos centímetros ou milímetros. Por isso, a ideia de se revestir um presídio com telas (gaiola de Faraday) para bloquear celulares (que trabalham na faixa dos microondas) não é boa, pois a malha teria de ser extremamente pequena e, por isso mesmo, caríssima!
  • Infravermelho. Tem tamanho de onda maior que as moléculas de nosso corpo, por isso interagem com nossa pele, esquentando-a.  É graças à energia da radiação infravermelha emitida pelo sol que é possível a vida na terra (aquecimento).
  • Luz. Observe que o que chamamos de luz visível é apenas um pequeno intervalo do espectro eletromagnético, e é da mesma natureza das ondas de rádio e dos raios X, diferindo apenas pela frequência!
  • Ultravioleta. A partir do ultravioleta  (UV) se começa a entrar na faixa da chamada RADIAÇÃO IONIZANTE, nociva à saúde. Este fato se deve ao seu pequeno comprimento de onda, abaixo da faixa dos micrômetros - ordem de grandeza das moléculas. Assim, estes fótons altamente energéticos podem penetrar em nosso corpo, indo até as camadas mais profundas da pele, interagindo com nossas células e com o DNA das mesmas, desequilibrando-as. Este pequeno comprimento de onda também explica porque em dias nublados não se sente queimar a pele, mas mesmo assim devemos usar filtro solar. Funciona assim: as nuvens bloqueiam os raios infravermelhos (os que esquentam), mas não bloqueiam o UV, pois seu o menor comprimento de onda faz com que ele não "enxergue" o vapor d'água das nuvens, passando direto. Atenção: para evitar que a radiação ionizante do sol danifique seus olhos, NÃO USE ÓCULOS ESCUROS SEM OS DEVIDOS FILTROS!
  • Raios X e raios gama. Estas radiações tem comprimentos de onda menores que nossas células, e por isso penetram profundamente em nosso corpo. O problema é que estas radiações estão na escala de tamanho dos átomos, interagindo com eles e causando danos. O acidente radioativo de Goiânia envolveu os raios gama.
Como se vê, os fótons e os conceitos relacionados são muito bem estabelecidos na Física. Vamos utilizá-los numa análise crítica? Como, então, ficaria uma análise do texto "Cinturão de Fótons" mencionado no início do texto?

Em primeiro lugar, quando se fala em "cinturão" - no sentido astronômico - está se falando de uma reunião de materiais, como partículas de poeira e rochas, que orbitam um astro, geralmente lembrando a forma de um disco. Bom, já sabemos que fótons estão sempre em movimento, normalmente em linha reta e na velocidade da luz. Assim, para se ter fótons formando um cinturão, significa que os mesmos deveriam estar constantemente em trajetória curva (como a lua em volta da terra) presos numa determinada região do espaço. Isso seria possível?

Só se pode estabelecer algum tipo de hipótese para que isto ocorresse forçando muitíssimo a barra:
- Uma curvatura do espaço-tempo devido à presença de um intenso campo gravitacional. Será que existe um buraco negro no centro do cinturão? Obviamente não!.
- Reflexão por espelhos curvos? Refração como na fibra ótica? Acho que estes dispositivos não existem no espaço...

O texto também fala que, quando se "entra no cinturão", se "entra na luz, levando as trevas embora". Quer dizer que a frequência destes fótons "presos" no cinturão é aquela característica da pequena faixa do espectro eletromagnético que os olhos humanos utilizam e que é chamada por nós de luz visível?
E a sutilização que, segundo o texto, deve ser promovido em nossos átomos? Como? Com o calor do infravermelho? Com a atividade destrutiva das radiações ultravioleta, raios X ou gama? O texto diz fótons, não diz?

O autor do texto místico-apocalíptico poderia em sua argumentação, em vez de especificar fótons e assim construir tolices científicas, ter generalizado mais: quem sabe dizer que o cinturão é formado por uma espécie de energia desconhecida da ciência, diferente da radiação eletromagnética e de tudo que se conhece, fugindo assim dos erros dos conceitos da Física ao denominar seu ente misterioso de "cinturão de fótons" e deixando tudo por conta da fé (e mesmo assim iam ficar os gigantescos erros astronômicos...).

Espero que, com este texto, uma certa "intuição" e capacidade crítica sobre teses mencionando estas entidades físicas - a luz, a radiação, os fótons - tenham se interiorizado naquele que desconhecia totalmente o assunto e teve paciência de ler até o fim.

Muita luz para todos nós (mas não a do tipo ionizante!)!

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*Curiosidade 1: Partículas que não são constituídas de fótons - mais energéticas ainda que os raios gama - chamadas de raios cósmicos, tem um comprimento de onda tão pequeno que milhares deles atravessam a terra e o nosso corpo a cada segundo, sem sequer tomar conhecimento da nossa existência!
*Curiosidade 2: Nosso corpo produz muita radiação, desde fótons até neutrinos!



Dival

22 de mai. de 2014

Amor Vira-Lata

Existem muitos tipos de amor.
Amor romântico, amor filial, amor de mãe.
Amor entre amigos, entre irmãos.

O amor, se verdadeiro e compartilhado por pessoas bem resolvidas, é uma dádiva da vida.
Mas em boa parte dos amores que vemos por aí não é bem assim e, muitas vezes, ocorrem ações no relacionamento que machucam e podem fazer com que a troca amorosa talvez não valha a pena, ou  pelo menos indiquem a necessidade de uma recauchutagem, parcial ou completa.

Digo isso porque notei, em muitas observações e experiências, um comportamento bastante frequente entre pares amorosos - um padrão de tratamento de um para com o outro - ao qual denominei "amor vira-lata", numa associação com um tipo comum de relação de donos com seus amigos peludos.

É claro que existem pessoas que tratam seus pets melhor que os humanos, mas este é outro caso...

Mas em que ponto, especificamente, se daria essa semelhança de tratamento?

O cachorrinho da relação!

De maneira geral, as pessoas adoram seus amigos peludos, e da alegria pura e simples que eles demonstram quando nos vê. Quem tem (ou teve) sabe: eles podem nos fazer sentir a pessoa mais especial do universo!

A chave é que essa relação homem-cão é desigual: o primeiro tem poder praticamente total sobre o segundo, podendo fazer quase tudo que deseja - mesmo infligir sofrimento - sem muitas possibilidades de que sejam geradas consequências. Essa é a verdade e um perigo para o mais fraco da relação.

Na dinâmica relacional do dia-a-dia entre eles, quando está de bom humor o dono brinca com seu totó, o afaga, aperta e até fala com aquela voz infantilizada. E o "au au" adora, apreciando intensamente tudo que recebe.

Mas num "belo" dia, o dono retorna irritado para casa. E grita com ele, ralha com ele, bate nele, manda deitar! Como diz a expressão popular, chega "chutando o cachorro".

Enfim, usa o pobre e confuso animal para descarregar as mazelas que acumulou no dia.

Mais tarde, o dono muda de humor e sente-se culpado ao ver o totó amuado em um canto, e volta com os afagos, agrados e novamente aquela "voz" que a titia faz para o bebê. E o ciclo se repete com o passar do tempo.

E o pobre animal (canis ou homus) só sente a confusão se instalar por não saber como agir, o que fez de errado, como se portar.

E assim, com um dos dois sendo tratado com carinhos e beijinhos em um dia, e como lixo em outro, constrói-se o amor vira-lata, que nem é tão incomum quanto se pode pensar num primeiro momento.
Começa em casa com os o pai, a mãe ou os dois, agindo desta maneira com outro ser de baixo poder: os filhos. Pode ser desta maneira também com a relação irmão mais velho/irmão mais novo (ou quem sabe o inverso?). Com os namorados, esposa e esposo, amigos e colegas, professores e alunos.
Enfim, em toda relação mais próxima.

É a transformação do outro em um objeto pessoal. "Sou o dono teu: acarinho se me dá prazer, bato se me trouxer alívio, de acordo com minhas vontades" seria uma tradução deste comportamento. Num caso como este, pode-se afirmar seguramente que até os momentos de carinho são expressões egoístas. Todos temos dias ruins, mas quem ama de verdade segura seus impulsos de agressão em consideração e respeito a pessoa do outro.

Duvido que alguém, aqui e aí, nunca tenha passado por muitas experiências de ser o "vira-lata" ou o "mau dono"; afinal, tanto os seres com quem compartilhamos a vida mais intimamente como nós mesmos somos falhos, temos dias ruins e, pasmem, erramos de vez em quando.
A questão é a frequência e a intensidade com que acontecem.

Pode-se pensar - com grande probabilidade de acerto - que numa relação majoritariamente deste tipo os estragos são maiores do que naquela em que a agressão é a norma, pois gera grande confusão e conflitos internos. No primeiro você tem certeza do que está acontecendo e sabe, pelo menos, o que deveria fazer; no outro, se rasga na indecisão e na perplexidade.
(Ab initio: não fazer nada, no primeiro caso, é assumir a vira-latisse!).

Tendo isto em mente, devemos estar atentos para saber separar um caso esporádico de tratamento canino de uma relação em que este seja o padrão: o amor vira-lata trazendo uma vida de cachorro!

Se sua identificação foi com a dono bipolar, aproveite esta percepção e mude! Positive o status quo e ganhe um parceiro que saberá expressar o quão satisfeito está com as mudanças.

Lembre-se: as pequenas agressões, físicas ou psicológicas - são destrutivas (senão criminosas) e podem sair do controle, ganhando energia sem que se perceba, e abrir uma verdadeira Caixa de Pandora, de onde os males espalhados podem destruir muitas coisas (inclusive você mesmo!).

Se for você o vira-lata (ipso facto) da história, protestar é preciso! Mostre com clareza que não gostou de cada ato deste tipo - de preferência sem descontroles emocionais. Converse, seja franco, lata (ops, fale)!

As coisas não são simples na vida e nas relações, contudo...
Se não houver solução, melhor fugir ou trocar de dono!

Eu não sou cachorro não!

17 de mai. de 2014

Como Transformei o Twitter em minha Secretária

O Twitter é um microblog / rede social, e tem um formato interessante. Não é a toa que foi uma revolução.
Twitter se revelando ferramenta.
Entre muitas características, o site permite que internautas se cadastrem gratuitamente e realizem postagens, limitadas ao limite máximo de 140 caracteres - chamadas de tweets - que podem ser lidas instantaneamente por seus "seguidores", e vice-versa.
Devido a estes limites é estimulada - de forma natural - a postagem de notícias e atualizações daquilo que cada usuário cadastrado (usuário) considera relevante, na hora que acontecem e de forma muito sintética.
Há a possibilidade, ainda, de que se disponibilize links de redirecionamento para outras páginas onde o tema do tweet está exposto de forma mais completa.

Estas características fizeram com que o Twitter caísse no gosto do público, popularizando-se rapidamente e atingindo, hoje (2014), a marca de 255 milhões de contas ativas.

A verdade é que, se olhado de forma rápida, o Twitter vai parecer superficial e incapaz de apresentar conteúdo que valha a pena. Para entender seu lado "mais profundo", é necessário utilizá-lo por um tempo. Olhado assim, mais de perto, percebe-se que o mesmo pode ser uma grande fonte de compartilhamento de informações e de construção coletiva de conhecimento e eventos.
As pessoas com interesses comuns são colocadas em contato ligeiro, em conversas construídas na velocidade dos jovens ultra-conectados e no limite dos 140 caracteres, formando um caldeirão em efervescência - imprevisível e sinergético - onde de repente as coisas acontecem!
Haja vista o papel deste nas recentes manifestações pró-liberdade que mudaram países, transformando-se em uma das ferramentas modernas para a luta dos povos por seus interesses.

Mas não menos interessante é o fato de que não só pessoas, mas instituições, empresas, causas, agremiações, grupos, entre outros, podem ter um perfil com os respectivos seguidores e "tweetar" o que desejam compartilhar, anexando os links de redirecionamento para outras páginas com o tema mais desenvolvido, se assim desejarem.
Um exemplo são os jornais: eles fazem uso desta ferramenta para divulgar o título de suas matérias e chamar a atenção dos leitores, e com isso eles podem selecionar rapidamente o que interessa e acessar a matéria completa. Muitas vezes, num dia sem tempo, só correr a página olhando os títulos das notícias já nos coloca a par do que está acontecendo no mundo.

Em meu caso, somente no ano passado me cadastrei - exatamente por não perceber suas potencialidades (uns tais pré-conceitos...) - e aos poucos fui seguindo perfis que tratam de temas que me interessam diretamente, tais como:
  • Notícias do Brasil e do mundo;
  • Temas de Ciência e tecnologia;
  • Assuntos relacionados à Ecologia e sustentabilidade;
  • Arte, humor, felicidade e viver bem;
  • Inovação, futurologia e realidade fantástica;
  • Filosofia, evolução e antropologia;
  • Educação e conhecimento;
  • Psicologia, emoções, sentimentos;
  • Saúde, nutrição e vida natural;
  • Desenvolvimento humano, social e pessoal.
Deste modo, com o passar do tempo fui sentindo que o microblog me mantinha atualizado sobre tudo que "rola na selva" dos meus interesses, de modo produtivo - reflexo dos perfis que selecionei criteriosamente para seguir - atualizados a cada segundo e sem complicações irritantes! Daí é só ir selecionando o que vale a pena ver mais de perto.

Ao perceber isto, senti que tinha encontrado uma ferramenta de grande utilidade. Também me lembrei do relato de um palestrante que também tinha múltiplos interesses - cujas palestras tinha assistido a muito tempo  - que disse, na época, pagar por um serviço de secretariamento que, de acordo com interesses preestabelecidos por ele, selecionava e sistematizava, diariamente, tudo que podia interessá-lo, poupando-o de um esforço enorme e da perda de tempo e de dinheiro. Não pude deixar de fazer uma associação com o serviço que eu tinha em mãos, e a levar mais a sério algo tão legal.

Hoje escolho os perfis para seguir de forma "quase profissional". São quase 500 que acompanho neste momento, sendo apenas dois deles de pessoas e não de instituições. Fazendo uma "conta subjetiva", posso "chutar" que, hoje, para ter acesso à mesma quantidade de informações selecionadas por unidade de tempo, sem o Twitter, seria impossível: um trabalho para vários "eus".

A figura abaixo mostra um print da tela do meu PC - tirado e editado enquanto digito este texto - e que ilustra a ideia aqui exposta:

Um momentum do meu Twitter em 17 de maio de 2014, as 15:02.

Façam a correlação com os temas de meu interesse que listei mais acima com esta figura. Percebem o serviço prestado? Gostei dos temas vistos nos tweets 3, 7 e 10, e cliquei nos links de redirecionamento para me aprofundar nos temas.

É muito útil, informativo e criativo!

E você, caro usuário do Twitter, até que ponto pode dizer que tem uma secretária em mãos?

EdiVal.


13 de mai. de 2014

Já ouviu? "I'm Alive" Brasil na Floresta da Tijuca

Quero compartilhar e encantar outros ouvidos com a canção ""I'm Alive": A song for Brazil's rainforests".



[Doe aqui <I'm Alive> para baixar.  A doação é a partir de $5, e será utilizada em investimentos de conservação das florestas brasileiras]

De singular beleza e extremamente rica em detalhes e variações. Sem dúvidas entrou para o seleto :) grupo de "minhas músicas favoritas".

Ela foi produzida para comemorar o dia da terra (22 de abril) e colaborar na luta pela preservação das florestas, tendo como cenário a Floresta da Tijuca, e foi sonorizada por um grupo de músicos conceituados, como Caetano Veloso, Lenine e Criolo.

É uma união de partes, porções de músicas independentes e incompletas que foram coladas seguidamente em harmonia, e essa diversidade de tons e melodias traz muitas possibilidades.

Uma canção para cada um destes trechos:
1- 0:40 até 1:42 (Criolo);
2- 2:02 até 2:17 (Sistah)
3- 2:28 até 2:54 (Julia Mestre, José Vitor Ibarra e Tom Veloso);
4- 2:54 até 3:16 (Caetano Veloso);
5- 3:25 até 3:51 (Ana Costa);
6- 4:23 até 4:48 (Lenine).

É assim se construiu esta admirável canção-colagem atual...
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Letra:
[Intro: Gisele Buchen]
If we ask ourselfs
How can we live more mindfully?
And what can we do better?
Better for the Earth, for forrests
For our life, for humanity
Laid the path toward possible
Given people ways to grew food, harvest hood
All in harmony with nature
And to learn a decente living in the process
That’s the Rainforrest Alliance is doing

[Criolo]

Sem braço, sem pernas, sem moedas no pote
Sem nenhuma boca grande pra dizer acorde
Estamos ai a sua mercê
Ele chegou aqui, cheio de ferramentas
Desavenças, falsas crenças
Em aço soberba, concreto e poder
Você vai viver assim numa caixa de vidro
Ou em leilão de álcool por quilo?
Aqui que jaz mãe nature...
Não quero dizer
Que se a janela da alma tem uma trava
Limpe seus olhos que tudo se acalma

Plural, quarta pessoa, verbo proteger

[Caetano Veloso]

I’m alive and vivo, muito vivo vivo
Feel the sound of music banging in my belly belly
Anda I know the one day I must die
I’m alive

[Sistah]

Quero aprender com o passarinhos melodias mais sutis
Fazer poesias delicadas como a Flor-de-lis

Obrigada natureza, é assim que se diz
O Sol nasce todo dia nem precisa pedir bis


[Lenine]

I’m alive! Ohhhhhh
Ohh Ohh Ohhhh

[Julia Mestre, José Vitor Ibarra e Tom Veloso]

Clama a floresta e-e-e-eeee
Sem fôlego
Para fazer dos teus frutos ninhos
Imagine como será...

[Lenine]

O céu chora , até chegar no mar
Demora

[Caetano Veloso]

I’m alive and vivo, muito vivo vivo
Feel the sound of music banging in my belly belly
Anda I know the one day I must die
I’m alive
Yes I know the one day I must die
I’m alive
Corre por tu savia, corre por tu sangre
Tiempo Deferente, tiempo idêntico
Corre tiempo en estos arrugas
Y nos círculos concéntricos

[Emicida]

Pétalas de um bem me quer
Arte, não mais, não menos
Jamais, sempre , parte, um
Sábio pajé falou: abre o xamã
Quem louva a beleza da natureza guarda o amanhã

Eu sou fã de quem constróis sem concreto
O que fica edifica pela palavra, dialeto
Nem todo poema é tinta e papel
Saiba ver de onde vem, onde tem
Cada alvorecer


[Ana Costa]

Sou a mãe e tenho sentimentos
Escuta o meu lamento, eu quero mais amor
Eu sigo viva e sigo nesse grito
E repita, eu quero mais amor

[Caetano Valoso]

And I know the one day I must die
I’m alive
And I know the one day I must die
I’m alive
Yes I know the one day I must die
I’m alive

[Lenine]

O rio ri
O céu chora
E até chegar ao mar
Demora
(2x)