30 de dez. de 2014

A Composição da Vida e as Cargas que Somos Obrigados a Carregar

Nosso passado são como vagões de uma composição, que vão se juntando com a medida exata de nosso andar. Como sabemos pelo peso que, às vezes, sentimos ser demasiado, nós somos a locomotiva que puxa a carga toda rumo a um destino que, inocentemente, tentamos controlar.

Todos carregam sua vida pretérita, sem exceção. Nada desaparece, nada é esquecido, pois todas as coisas que vivenciamos tem uma energia e não podem, portanto, ser destruídas.

O passado é, enfim, um trem com o tamanho da nossa vida, e em cada vagão jaz uma lembrança e um significado.

Cedo vem a todo ser vivo o peso do viver: o nascituro não é como folha branca, pois traz a carga daquilo que absorveu da mãe e do mini-mundo da barriga, seguido do trauma físico do nascimento (e, quem sabe, de uma existência anterior à fecundação?).
Estes são, inexoravelmente, os primeiros vagões da composição da vida de cada um de nós.

Conforme caminhamos, os acontecimentos adentram o passado que é um campo difuso e mal iluminado, pois a lanterna da consciência vive no presente, caminhando bem junto a nós na velocidade e no sentido da flecha do tempo.

Temos vagões fechados, semi-abertos e aqueles abertos e francos. Na penumbra das lembranças distantes – e nem sempre presentes na consciência objetiva – está tudo que passamos.

Nas profundezas da psique existe um universo inteiro a ser desvelado!

Consciente X Inconsciente.

Alguns vagões transportam cargas que, por sua própria força positiva, nos impulsionam para frente; outros, servem como freios, e temos de os arrastar. A força do primeiro é um vetor de sentido auxiliar – são lubrificantes da vida – e a do segundo vem no sentido contrário ao caminho que desejamos seguir: são os fardos atritosos.

E cada lembrança tem uma relação especial com a luz: alguns reluzem e nos retroalimentam; outros absorvem nossa luminosidade. Uns são estrelas e propiciam a vida; outros, buracos negros que sugam tudo, até a luz do presente.

Quais pontuam nosso céu? São as pessoas que nos alimentaram de nutrientes, de sentimentos e de sabedoria; são os passeios por lugares maravilhosos, é o totó que enriqueceu nossa infância com sua existência; são nossos amigos e companheiros com quem rimos e aprendemos.

Quais são os buracos-negros? São os traumas que, às vezes, nem estamos conscientes de sua existência; é o parente abusador (que pode ser, horror dos horrores, um dos que nos deu a vida); pode ser o "humano" horrível que vampirizou nossa alegria com violências inomináveis, e podem ser também as tragédias que levaram, tal qual tsunami, as coisas mais preciosas que possuíamos.

Um nos traz a primavera da vida, o outro a noite negra da alma.

Numa terapia podemos pegar – com esta ajuda externa – a lanterna do presente e trazer luz às cargas que estão nos atrasando. Ao vê-las e compreendê-las, deixamos ali um pouco da luz que as iluminou, e as apaziguamos, pacificamos, neutralizando um tanto de sua natureza sugadora.

Assim, podemos seguir em frente com menos carga, libertos de alguns freios que nos exauriam.

Autoconhecimento então é, também, olhar para trás e nos permitir ver e (re)conhecer a composição de nossa vida – que é, no final das contas, a construção de nós mesmos e grande responsável pelo que somos hoje.

Quem tem medo de olhar – sempre que for necessário – aquilo que carrega dentro de seus empoeirados vagões, perde a oportunidade de aliviar a carga de sua vida.

Auto-enfrentamento.


EdiVal.
30/12/2014

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